segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Afinal não somos todos Charlie...

Este domingo, enquanto a maioria das nossas atenções estavam voltadas para as eleições gregas, deu-se mais uma demonstração de que, de facto, não somos assim tão Charlie...

Notícia transmitida pela SIC

A questão de Sócrates estar preso à coisa de 2 meses sem se saber ainda a acusação é de facto preocupante, a meu ver, pois parece indicar cada vez mais que se trata de uma perseguição política... não fosse o facto de existirem muitos outros presos pelo país fora que se encontram na mesma situação (alguns deles no estabelecimento de Évora até), que aponta mais para uma prática pouco convencional da justiça, que acaba muitas vezes por trazer consequências nefastas para os que tiveram presos preventivamente e depois nem se chega a formar uma acusação, uma vez que o seu nome fica sempre manchado.

De facto... mas este caso mistura crítica à justiça com convicção política, o que começa a tornar muito difícil acreditar num julgamento justo e correcto...

Sobre o caso do "humorista", independentemente do que estava lá a fazer ou não, não teria sido mais fácil ignorar o indivíduo? Quem se ficar somente pelo vídeo acima até pensará que correu tudo bem... mas o próximo, o qual só consigo partilhar neste link, mostra o que se passou até ao momento da intervenção da polícia...

O direito de ter a sua opinião, e sobretudo de a manifestar, é uma coisa muito bonita... desde que ela esteja de "acordo com a nossa", é claro!

No curto artigo do Publico, é referido que este humorista terá provocado que ex-governante deveria "ficar preso para o resto da vida", e que a PSP teve de intervir (como demonstra o vídeo do link acima mencionado), para impedir agressões dos manifestantes a favor do ex-primeiro-ministro!

Os motivos deste homem são até ao momento desconhecidos, e talvez tenha de facto sido pago para fazer isto, mas quando se passa para o nível de agressão demonstramos que não somos muito melhores que os radicais islâmicos que atacaram a redacção do Charlie Hebdo, embora ontem não se tenha chegado a esse ponto (graças à PSP)...

Mal posso esperar para ver que cobertura isto vai ter nos media logo à noite... sobretudo na TVI e na CMTV... fica uma curta peça para aliviar os ânimos... porque ao fim ao cabo, o homem estava lá só para os "achincalhar"...


domingo, 25 de janeiro de 2015

Europa a ver-se grega?

Em pleno dia de eleições gregas, cujo resultado é aguardado com tanta ânsia quer pelos próprios gregos como pelos restantes europeus (sobretudo cá em Portugal), decidi tecer algumas considerações sobre o que se tem passado e sobretudo o que poderá vir a acontecer, quer na Grécia quer na resto da Europa.

Será caso para se dizer: os gregos estão a ver-se gregos?

Como é que os gregos chegaram ao ponto a que chegou? A Grécia pediu empréstimos da ordem de 240 milhões de euros do FMI e da UE para salvar uma economia seriamente afectada pela crise económica internacional de 2008. Depois de seis anos de medidas de austeridade e uma severa recessão, o desemprego permanece alto (umas fontes apontam para aproximadamente 22,5%, outros chegam mesmo a dizer 25% da população activa), sendo que este índice chega a 50% entre os gregos de 25 a 35 anos. A criação de novos impostos complicou ainda mais a  situação da classe média grega que, à semelhança do caso português, parece estar em vias de extinção.

E é neste cenário que, hoje, os gregos vão às urnas para uma eleição parlamentar que já se tornou, de acordo com alguns analistas, numa espécie de "referendo da austeridade", o que é curioso pois as mais recentes sondagens não dão uma vitória absoluta à coligação de esquerda. Embora, a julgar pelas pesquisas de opinião, uma parcela substancial dos gregos quer dar um basta às duras medidas económicas impostas ao país por organismos internacionais como o FMI e a UE, tudo indica que a frente não vai obter maioria absoluta das cadeiras do Parlamento grego.

A coligação de partidos e movimentos de esquerda que formam o Syriza, que vinha crescendo em popularidade graças a uma plataforma contrária ao programa de austeridade e que defende a renegociação do pacote negociado com o FMI e a UE. Apesar deste espírito anti-austeridade, e até um algo anti-europeísta, o Syriza afirma que não defende uma saída da UE ou mesmo que o país deixe de usar a moeda única, mas é difícil imaginar como todos estes ideais serão conciliados com os compromissos de ajuste assumidos desde que a Grécia foi resgatada pelo trio Troika.

É claro que as reacções exteriores já se fizeram notar (europeias e não só).

Embora Alexis Tsipras, líder do partido, reafirmou nos últimos dias a sua intenção de renegociar os termos da dívida grega e acabar com algumas medidas de austeridade, hipótese rejeitada por diversos líderes europeus,  a reacção à perspectiva de vitória do Syriza ainda não está pressionando as grandes economias do bloco, mas os mercados já reagiram e, na passada segunda feira, os títulos da dívida grega caíram e o euro atingiu o seu nível mais baixo em 9 anos. Já no campo da política europeia, parece que alguns dos líderes não estão a ver a (possível) resposta democrática grega com bons olhos. De acordo com a Der Spiegel, o governo da Angela Merkel vê a saída da Grécia do euro como "inevitável", mas "administrável" caso se confirme a vitória do Syriza -  uma declaração nem confirmada nem desmentida!

Porém, oficialmente, a Comissão Europeia mantém que a adesão ao euro é "irrevogável" (onde já ouvimos esta?) e a Alemanha diz que ainda pretende manter a moeda em todos os seus membros actuais - declarações em Janeiro de 2015 que guardam um eco desconfortável de 2011... Em teoria, pelo menos, fala-se de que a Grécia poderia ser pressionada a deixar o euro se o BCE decidir não comprar títulos da dívida grega como parte de de um programa de "afrouxamento quantitativo" (Quantitative Easing), sabendo que o próximo governo pensa em reestruturar a sua dívida. No entanto, no passado dia 23 Draghi decidiu lançar um plano alargado de aquisição de títulos quer públicos quer privados, embora ainda não esteja muito bem definido o como tal será feito. Também já foi divulgado, entretanto, que as eleições na Grécia não influenciaram a decisão do BCE, cujo programa estava pensado muito antes.

Por um lado , assim parece, a ideia é influenciar a decisão dos eleitores gregos, que não querem ver uma saída do euro, e ao mesmo tempo enviar um recado aos partidos "radicais" como o Podemos, da Espanha, que por sua vez também lidera nas sondagens.

No entanto, sabe-se por intermédio de uma notícia de 11 de Janeiro (ver nos links no fim da mensagem), a Comissão Europeia vai propor uma nova prorrogação até 6 meses do resgate à Grécia para evitar problemas de liquidez com o vencimento, a 28 de Fevereiro, da última ajuda europeia.

A mesma notícia relata que O Eurogrupo deverá reunir-se um dia depois das eleições, mas que "é pouco provável" que tome alguma decisão (resultado que tem sido mais que habitual destas reuniões na minha opinião..). O alto responsável da Comissão Europeia realçou ainda que o executivo comunitário, dirigido por Jean-Claude Juncker, prefere manter um "perfil baixo" sobre o possível resultado das eleições na Grécia para "não interferir" na campanha eleitoral. Além disso, considera "exageradas" as especulações sobre uma eventual saída da Grécia do euro em caso de vitória do partido Syriza. O líder do Syriza não se tem "cansado de repetir" que, em caso de vitória, o país continuará no euro e irá negocia com os credores europeus, salientou.

É impressão minha ou a EU não está muito preocupada com o resultado destas eleições? E por que motivos?

Mas se o Syriza causa preocupação fora da Grécia, a visão do eleitorado doméstico é bem diferente. O partido tem registado um valor de 28% a 35% da preferência do eleitorado, enquanto o principal concorrente e partido ainda no poder, a Nova Democracia, conta com um apoio que varia entre os 25% e os 30% (aproximadamente). Com base nestas estimativas a pergunta que se coloca é: Conseguirá o Syriza formar um governo? Tudo aponta para que, mesmo que vença as eleições, é improvável que o partido consiga a maioria absoluta das cadeiras, sendo assim formar uma coligação.

Gostaria de escrever sobre as possibilidades de um futuro governo grego, com ou sem coligação, e com quem, mas acabo de receber a notícia de uma sondagem à boca das urnas que aponta para a vitória do Syriza, embora seja incerto o cenário de maioria absoluta... razão pela qual interromperei a minha escrita por agora, enquanto aguardo mais e melhores resultados.

Pessoalmente tenho dúvidas de que a vitória do Syriza venha a mudar assim tanto o quadro europeu, sobretudo quanto à aplicação da política de austeridade. Quando oiço muitos apoiantes da esquerda a dizerem que estão maravilhados com a hipótese de uma coligação de esquerda "vencer a Troika", lembro-me sempre das esperanças depositadas em Hollande (embora este seja de uma esquerda mais moderada), que acabou por mudar praticamente nada na politica europeia de austeridade, uma vez que o próprio até aprovou um pacote de medidas de austeridade para a França, sem resultados positivos até ao momento (pelo contrário).

A direita, por cá, também parece não estar muito incomodada com este cenário, por vezes apresentando um discurso: "As eleições de hoje na Grécia são uma oportunidade, uma oportunidade de ver como se comporta a "esquerda caviar" à frente do governo, uma oportunidade de testar noutro país que não Portugal as consequências da eleição de um partido populista e, sobretudo, para o governo (de Passos) é a oportunidade de testar isto tudo antes das nossas legislativas. Correndo mal na Grécia, está pode ser a última oportunidade para o governo reverter o sentido que as sondagens têm vindo a demonstrar em Portugal."

 Por mim, só peço que caso tudo isto corra mal, que Portugal não vá de arrasto, como tem vindo a acontecer imensas vezes. Mas, durante as minhas pesquisas e também através de algumas notícias que tenho vindo a ver, há coisas demasiado erradas na Grécia. Uma das que mais me chocou é o facto de que os desempregados (gregos) não poderem utilizar o respectivo sistema nacional de saúde.

É nestas medidas que se descobre a desumanidade que reina nas elites politicas e económicas e que me faz desejar que partidos como o Syriza e o Podemos ganhem... nem que seja só para "agitar as coisas". É verdade que sem fundos a grande maioria dos nossos direitos mais básicos deixam de poder existir, mas deveriam existir limites até que ponto estamos dispostos a suportar este tipo de medidas, que após todos estes anos têm vindo a demonstrar que pouco ou nenhum beneficio trouxeram aos países que as praticam.


Fontes que pode e deve consultar:

Artigo do JN: jn.pt/opiniao
Artigo na Exame: exame.abril.com.br/
Artigo da BBC (em Português): bbc.co.uk/portuguese
As contas furadas a Grécia, artigo do Observador: observador.pt/contasfuradasdagrecia
Esperança no Syriza, também do Observador: observador.pt/opiniao/resperancanosyriza/
Notícia do Sapo, sobre a CE: sapo.pt/noticias/comissao-europeia
Sobre o programa de compra de dívida do BCE: observador.pt/programadecompradedividasoberana
"A Grécia vai levantar-se e dizer à Europa: Não somos vossos escravos":
expresso.sapo.pt/agreciavailevantarse
À boca da urnas, Renascença: rr.sapo.pt/informacao

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Prelúdio de o quê ao certo?

Como já devem ter ouvido e/ou visto nos media, aparentemente o BCE (Banco Central Europeu) decidiu lançar um programa (alargado) de aquisição de títulos por intermédio de activos e obrigações. Anunciado por Mário Draghi, presidente do BCE, tratam-se de aquisições mensais, que combinam títulos quer do sector publico quer do privado, e que totalizarão qualquer coisa como 60 milhões de euros.

Entretanto já me chegou uma imagem, através de um amigo meu, que serve para nos recordar-mos do que uma certa pessoa disse da possibilidade de tal acontecer (infelizmente não disponho da data..):


E, pergunto-me eu, de onde vem esta súbita disponibilidade, quer de capital mas sobretudo de vontade, para se comprar dívida? Será um reconhecimento de que as políticas de austeridade, por si só e levadas ao extremo cego em muitos (demasiados até) casos? Ou trata-se uma reacção, mais ponderada, e até diria mais inteligente, de certos líderes (nomeadamente políticos e banqueiros, entre outros) europeus em resposta ao que eles têm vindo a descrever como uma ascensão de partidos populistas e/ou "radicais" pela europa, sobretudo nos países tocados pela Troika, como o caso do Syriza ou o movimento Podemos, uma vez que a resposta dada inicialmente pela chanceler Merkel não foi muito bem recebida em praticamente lugar algum?

Aliás, a possível vitória do Syriza no próximo domingo também tem "feito ondas" por cá, como nos transmite uma pequena peça da página (do facebook) do Get Up Portugal:

"Ulrich, também conhecido pelo senhor Aguenta Aguenta, casado com uma assessora do senhor presidente da República, como o mundo é pequeno!, decidiu escrever um email aos clientes do seu banco, o BPI. E para falar de quê? Da forma como os banqueiros Têm gerido o nosso dinheiro? Para anunciar um aumento de taxas de juros nos depósitos a prazo? 

Não!

Antes veio alertar a desgraça que se abaterá sobre a banca portuguesa se o Syriza ganhar as eleições gregas, secundando assim Merkel, Lagarde e Junckers.

Pergunto: se os banqueiros viraram políticos, porque não havemos nós de ser os nossos próprios banqueiros?
Já estou como o Tiririca: pior, a gente não fica."

É de facto um tema muito interessante que revela, a meu ver, como os destinos dos europeus são traçados, e sobretudo por que tipo de gente. Muito em breve escrever-vos-ei sobre as possíveis mudanças, ou não, que a eventual vitória do Syriza trará à União.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Ainda sobre a liberdade de expressão ...

(Pelo menos) Desde o ataque ao Charlie Hebdo tem surgido um enorme debate em torno da liberdade de expressão, essencialmente se esta tem ou não tem limites e, em caso positivo, quais são...

É claro que ninguém, na sociedade ocidental, diz que não deveria existir tal  liberdade, mas quando esta liberdade começa a "mexer" com as crenças de cada um, sobretudo na questão se ofendeu ou não crentes, clérigos e figuras religiosas (profetas, anjos e deuses, entre outros), a conversa começa a mudar de tom e muitos começam a usar o argumento "mas estavam a pedi-las" ... curiosamente mais ou menos o mesmo que se diz num caso de violação porque "ela andava com uma saia demasiado curta"...


Sejamos honestos, todos gostamos de usufruir da liberdade de expressão para dar a nossa opinião e para ler e/ou ouvir as opiniões de outros que concordem connosco ou que discordem daquilo que também discordamos, e nesses casos até se pode ofender porque "é verdade, não há outra forma de o dizer ...", mas quando esta é usada para dessa mesma forma mas contra algo em que acreditamos, aí já deveriam existir limites, pois agora fomos ofendidos! Ontem cruzei-me com um vídeo o qual gostaria de partilhar convosco (atenção pois contem alguma linguagem grosseira) ...


Pode ser um algo brutal, mas penso que resume muito bem esta questão. Existe uma outra opinião muito interessante sobre a liberdade de expressão:

"Sobre liberdade de expressão existem basicamente duas posições: ou você defende-a vigorosamente por pontos de vista que (você) odeia, ou a rejeita e passa a preferir normas Fascistas/Estalinistas."
- Noam Chomsky, em Chomsky in anarchism (2005)

Nesta visão a liberdade de expressão pode parecer uma lâmina de dois gumes, isto é, de qualquer das formas mais cedo ou mais tarde um dia iremos "magoar-mo-nos" (ou ficarmos ofendidos, se preferirem) devido a essa liberdade, mas honestamente, penso que é preferível assim do que viver numa sociedade onde ela não exista de todo... 

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Será que existe mesmo uma falta de recursos no Planeta?!

Hoje deixo-vos só uma imagem para reflectirem um "pouquito" ...


Esta reflexão surge de uma notícia onde é relatado que o grupo das pessoas mais ricas do mundo, que representa aproximadamente 1% da população mundial, terá, em breve, mais (recursos/riqueza) do que metade de toda a população do globo, segundo a Oxfam...

"O resto da população conta apenas com 5,5% da riqueza mundial e a riqueza média era, em 2014, de 3.851 dólares (3.326 euros) por adulto. Comparativamente, o grupo dos 1% tem uma média de riqueza de 2,7 milhões de dólares (2,3 milhões de euros) por adulto."

Ainda acha que são os pobres e os contribuintes comuns (por si só) que andaram a viver acima das suas possibilidades?

Notícia original: tvi24.iol.pt/economia/riqueza

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Afinal somos todos pecadores ... uma "leve" provocação...

Deparei-me hoje com uma notícia, partilhada por uma amiga minha, que me despertou a atenção. O artigo, referente à opinião do Papa sobre a relação entre liberdade de expressão e fé, é intitulado da seguinte forma:

Francisco chegou ontem às Filipinas, o único país asiático de maioria católica, depois de uma deslocação ao Sri-Lanka, de maioria budista.

"Papa diz que liberdade de expressão não permite "insultos à fé dos outros""

... bom, a meu ver podia ser bem mais simples:

"Liberdade de expressão não permite insultos aos outros"

... mais simplista e respeitador do próximo, não vos parece? Mas, a meu ver, o que me deixou mais a pensar foi a seguinte declaração: "Não podemos provocar, não podemos insultar a fé dos outros, não podemos ridicularizá-la", disse o Papa Francisco aos jornalistas a bordo do avião que o levou de Colombo para Manila, quando questionado sobre as caricaturas do Charlie Hebdo.

É verdade que alguns dos cartoons do Charlie Hebdo eram de facto muito provocantes, e até direi ofensivos, para os crentes das religiões satirizadas, mas a meu ver a pior que já vi nem era contra o islamismo (e muito menos contra a figura de Maomé) mas sim contra o cristianismo e, em particular, contra a representação da santíssima trindade e, se bem me lembro, não vi ou ouvi declaração nenhuma da Al-Qaeda ou do Estado Islâmico (serão eles "os outros"?) contra a seguinte capa:


E aparentemente nenhum fundamentalista cristão ameaçou os desenhadores do Charlie por causa da publicação desta capa, nem a vigilância policial foi reforçada para responder a uma eventual retaliação cristã.

Mas o que deixou a pensar foi a parte do "Não podemos provocar" ... o que é "provocar"? Será o simples acto de dizer: "desculpa mas não estou de acordo contigo" já uma provocação? Talvez mais importante seja saber o que é a fé (ou uma fé), antes de sabermos se estamos a provocar aqueles que nela acreditam....

Sendo, de acordo com uma definição um algo simplista talvez, a fé a firme opinião de que algo é verdade, sem qualquer tipo de prova ou critério objectivo de verificação, pela absoluta confiança que depositamos nessa mesma ideia (ou fonte de transmissão), vemos como uma fé, sendo uma opinião, que por sua vez se trata de uma ideia (ou um valor) que pode ser contrária à verdade,  Estão a dizer-me que não posso sequer "provocar" sobre uma opinião que de si não necessita de validação prévia?

Existirão diferentes formas de provocar, ou níveis de provocação? E se forem "os outros" a provocarem-me primeiro? Já posso? Talvez o próximo parágrafo, do JN, seja mais esclarecedor:

"A liberdade de expressão deve "exercer-se sem ofender", disse, sublinhando que expressar-se era um "direito fundamental". "Todos têm não apenas a liberdade, o direito, como também a obrigação de dizer o que pensam para ajudar o bem comum. É legítimo usar esta liberdade, mas sem ofender", insistiu, pedindo verdade, principalmente na actividade política."

A parte do bem comum tem muito que se lhe diga (a inquisição, por exemplo, queimava hereges em defesa o bem comum da comunidade cristã) ... no entanto, correndo o risco de estar a provocar o Papa Francisco, por quem até tenho uma grande consideração, porque não "pedir verdade" da actividade religiosa? Poderia começar a falar dos casos de pedofilia que o Vaticano tem escondido ao longo dos anos, mas hoje estou mais interessado em reflectir o papel da crença islâmica nos países islâmicos, onde na maioria dos casos a religião é o estado.

Porque será que um desenho, satírico ou não, do profeta Maomé provocador ao ponto de originar manifestações de protesto e, em casos mais extremos, conduz a atentados contra quem os produziu?

"Tem alguma ideia do quanto ofensivo isso é?"

Porque se trata de um dos dogmas do islamismo, ou seja, são proibidas representações do profeta, sejam estas sob a forma de um desenho ou uma escultura, salvo as já existentes em livros sagrados, e mesmo algumas dessas revelam um pormenor interessante:o profeta é muitas vezes representado de cara vendada.


Na primeira imagem: Maomé nos braços da mãe, Amina, em miniatura turca, ambos com o rosto vendado; Já a segunda trata-se de uma gravura otomana retratando o momento da revelação pelo anjo Gabriel do Alcorão para o profeta; E na terceira vemos Maomé orando na Caaba, numa gravura otomana, uma vez mais o seu rosto está vendado, algo comum na arte islâmica da época.

Mas, o que acontece quando os muçulmanos não respeitam também os símbolos/ideais das outras religiões e/ou culturas?


E atrevo-me até a perguntar e o que acha Francisco que deve acontecer caso alguém insulte a nossa fé. Ganhamos automaticamente o direito de romper o limite da liberdade do outro e tornar a coisa "mais física"? Felizmente o "Papa Chico" antecipou-se a mim:

"Francisco condenou também os assassínios cometidos em nome da religião: "Não podemos ofender, ou fazer guerra, ou matar em nome da própria religião, em nome de Deus", afirmou. Matar em nome de Deus "é uma aberração" e "é preciso ter fé com liberdade, sem ofender, sem impor, nem matar"."

E para quem se lembrar imediatamente do historial da própria igreja católica, nomeadamente sobre as cruzadas e a inquisição, como eu enquanto lia esta parte do artigo:

"O que se passa actualmente (com os atentados islamitas) choca-nos, mas pensemos na nossa Igreja: quantas guerras religiosas tivemos, pensemos na noite de São Bartolomeu (massacre desencadeado pelos católicos contra os protestantes franceses e que marcou o início, no século XVII, das guerras religiosas). Também fomos pecadores, lembrou."

No geral não achei que Francisco tenha estado mal, ou que não tenha (pelo menos alguma) razão naquilo que disse. No entanto, creio que poderia ter abordado um pouco melhor a parte da "provocação", pois não me parece que não exista um bom conceito de liberdade, mas sim se esta tem ou não limitações, e se sim quais.

Links para a notícia original:

No Jornal de Notícias: www.jn.pt
Na Visão (online): visao.sapo.pt/papa-liberdade-de-expressao

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Exactamente uma semana depois ... como estamos? Melhor, ou pior?

Uma semana após o infame ataque à redacção do Charlie Hebdo, como prometido, saiu um novo número do jornal semanal, e desta vez a primeira página volta a destacar a caricatura de Maomé.

"Está tudo perdoado". É o título da nova edição do Charlie Hebdo.

A edição desta quarta-feira o seminário satírico francês teve 3 milhões de exemplares, ao contrário dos habituais 60 mil, e saiu em mais de 20 países, com versões em 5 línguas, incluindo árabe e turco. Como de costume a sátira e o humor permanecem e ninguém escapa: há Maomé (ver imagem acima) e o Papa Francisco, o primeiro-ministro francês e jihadistas que esperam pelas virgens que não chegam (porque estão "ocupadas" com os membros assassinados do jornal). E, no final, uma mensagem: o lápis é mais poderoso que qualquer arma.

É claro que o grupo jihadista do auto-proclamado Estado Islâmico (EI) reagiu de imediato, considerando "muito estúpida" a publicação de caricaturas do profeta Maomé na nova edição. Num boletim informativo da rádio do EI na internet Al Bayan, o locutor disse que "Charlie Hebdo publicou caricaturas que mais uma vez dizem respeito ao profeta e esta é uma acção muito estúpida".

Entretanto, a Al-Qaeda, no Iémen, reivindicou hoje, num vídeo divulgado online, o atentado terrorista da semana passada em Paris:

"Heróis foram recrutados e actuaram", declarou no vídeo, publicado num site islamita, um dos dirigentes da organização terrorista na península arábica, Nasser Ben Ali al-Anassi.

A AQPA (Al Qaeda sediada na Penísula Arábica) , braço da organização consagrada por Osama bin-Laden, baseado no Iémen, assumiu nesta quarta-feira (dia 14) a autoria do atentado que deixou 12 mortos em Paris.  Num vídeo divulgado em fóruns jihadistas na internet, Nasser Ben Ali al-Anassi, um dos líderes da organização, afirmou que a "bendita invasão de Paris" foi planeada pela cúpula da organização a partir de uma ordem do "seu chefe supremo", o egípcio Ayman al-Zawahiri, que substituiu Bin Laden no comando da facção, e em vingança pelas ofensas contra o profeta Maomé. 

O nível de pensamento e humanidade, assim como os seus objectivos, destes extremistas está muito presente nos próximos dois parágrafos e, como verão, não me parece (infelizmente) que não haverá muito espaço para negociações ou compromissos com estes radicais,

"Estes heróis levantaram-se para cumprir as promessas que tinham feito a Deus, curaram a ira dos fiéis muçulmanos e apagaram o fogo de raiva que tinham", disse Anassi."É um ponto de inflexão (o ataque) na história da luta contra os inimigos de Deus", continua, convocando toda a nação muçulmana a"se sacrificar como vingança pelo sangue derramado e a dignidade violada". Não me parece que esteja a falar do assassinado do polícia, curiosamente muçulmano também, durante o ataque à redacção do jornal.

Anassi também disse que os "chefes da apostasia" estão" impactados e uniram-se para "fortalecer a sua fraqueza e tentar curar as suas feridas", referindo-se ao encontro dos líderes de vários países ocidentais (e não só) na marcha de domingo, mas advertiu que "estas feridas não se curarão nem se vão curar, nem em Paris, nem em Nova Iorque, nem em Washington, nem em Londres e nem na Espanha".

De volta ao "mundo civilizado" (nem por isso se formos a ver bem...), no passado domingo, em Paris , ocorreu algo que é muito bem explicado na seguinte montagem:

Para ver melhor terá de carregar na imagem.

Por muito bons que tenham sido os motivos por detrás desta iniciativa, e pela adesão também, na minha opinião ficou tudo estragado quando os chefes de estado não só seguiram na frente do restante movimento (à frente dos sobreviventes do atentado e das famílias/amigos dos falecidos) como foram isolados do "restante povo", dando a ilusão, num ângulo mais frontal, que guiavam a manifestação. esta "segregação" entre a classe política e "o resto", que por motivos de segurança ou outros que tenham sido, não me parece transmitir uma mensagem de união, coragem e esperança, no combate pela preservação da liberdade expressão, mas soa algo mais a algo do género: "Nós até estamos aqui, mas não se cheguem perto, plebeus "nojentos"!"

Enfim, eu nem queria concordar em nada que fosse com os extremistas acima mencionados... mas tenho de dar alguma razão a Anassi quando se refere aos líderes ocidentais como os "chefes da apostasia"... e por falar em liberdade de expressão fica aqui uma breve reflexão sobre o assunto, levantada por uma artigo em inglês, que poderá consultar (ver link no fim deste post).

Para ver melhor terá de carregar na imagem.

Legenda, da esquerda para a direita tal como na imagem:

David Cameron (Reino Unido) - Forçou o The Gardian a destruir documentos relacionados com o caso Snowden;

Benjamin Netanyahu (Israel) - As Forças de Defesa de Israel são conhecidas por ocasionalmente matarem jornalistas a cobrir a situação na faixa de Gaza;

Ibrahim Boubacar Keita (Mali) - Expulsou repórter por investigar execuções a mando do governo;

Mahmoud Abbas (Palestina) - Aprisionou jornalista por causa de uma piada publicada no facebook;

Ahmet Davutoglu (Turquia) - Actualmente a perseguir dúzias de jornalistas.

Entre (muitos) outros mencionados no artigo do Gawker Justice. Parece-me que existe uma grande necessidade de esclarecer quem estará de facto a prejudicar mais a liberdade de expressão... E já agora, nós por cá...

Cartoon da autoria de Henrique Monteiro em henricartoon.pt.

Antes de terminar a minha mensagem uma última questão: Enquanto 20 pessoas (o total do ataque à redacção e ao mercado kosher, contando com os terroristas) morreram em França, porque é que o mundo (todos nós em geral) está a ignorar o que se está a passar na Nigéria, já intitulado Massacre de Boko Haram, onde se estima que terão morrido pelo menos 2000 pessoas?

"Eu sou Charlie, não vamos esquecer as vítimas de Boko Haram".

Fontes/links úteis:

Al-Qaeda reivindica ataque contra Charlie Hebdo: sicnoticias.sapo.pt/Al-Qaeda
Artigo (com vídeo) no Sapo: expresso.sapo.pt/quatro-minutos
Uma peça curta sobre Sarkozy em bicos de pés: publico.pt/noticia/sarkozy
Artigo do Sol com a resposta do EI: www.sol.pt
Artigo e vídeo sobre a reivindicação do ataque: noticias.uol.com.br
Sobre os líderes na marcha e a liberdade de expressão nos respectivos países:
justice.gawker.com/world-leaders
Artigo do The Guardian sobre o que se está a passar na Nigéria:
theguardian.com/boko-haram-attacks

domingo, 11 de janeiro de 2015

Carta aberta sobre o arquivamento do Processo dos Submarinos!

Não conhecia isto e assim que soube decidi partilhar de imediato. Trata-se de uma carta aberta para "pressionar" a Procuradoria Geral da Republica a reabrir o caso dos submarinos, e na altura em que vos escrevo esta mensagem já conta com mais de 8500 assinaturas.

Esta mesma carta será também entregue no Parlamento, reclamando a reabertura da comissão de inquérito.



Um grupo de cidadãos entregou nesta sexta-feira na PGR uma carta aberta, assinada por mais de oito mil pessoas, que visa "pressionar" a reabertura do inquérito à compra de dois submarinos pelo Estado Português, segundo Rui Martins, um dos promotores da iniciativa. "Sabemos que não é legalmente a pressão que faz reabrir o processo, mas queremos evitar que o assunto caia no esquecimento", explicou.

Links úteis:

Notícia no Publico: publico.pt/sociedade/noticia
Site da petição: peticaopublica.com
e já agora, a minha publicação neste blog sobre este assunto:
omelgapt/irrevogavelmente-prova-de-bala

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Os donos de Portugal ... uma história de "rendas asseguradas pelo Estado"!

Já quase não me lembrava que tinha este vídeo guardado na minha conta no youtube, no entanto hoje decidi ver como deve ser o filme e fiquei um algo espantado, não pelas "trafulhices" praticadas hoje em dia, mas pelo facto de que muitas delas já eram praticadas à mais de um século!

Outra coisa que me deixou a pensar foram os nomes associados, em particular os das "Grandes Famílias Portuguesas" tais como:

Pinto Basto
Mello
Ulrich
Lima Mayer
Sommer
Espírito Santo

É verdade, mas na altura (este documentário foi publicado em 2012) não se tratava  de uma investigação ao que se passou no BES, mas sim sobre o (grande) poderio que uma meia dúzia detinha no país, sobretudo no que tocava à indústria, agricultura e banca. São pouco mais de três quartos de hora, mas que valem a pena, garanto-vos!


Donos de Portugal é um documentário de Jorge Costa sobre cem anos de poder económico. O filme retrata a protecção do Estado às famílias que dominaram a economia do país, as suas estratégias de conservação de poder e acumulação de riqueza. Mello, Champalimaud, Espírito Santo - as fortunas cruzam-se pelo casamento e integram-se na finança. Ameaçado pelo fim da ditadura, o seu poder reconstitui-se sob a democracia, a partir das privatizações e da promiscuidade com o poder político. Novos grupos económicos - Amorim, Sonae, Jerónimo Martins - afirmam-se sobre a mesma base.

No momento em que a crise desvenda todos os limites do modelo de desenvolvimento económico português, este filme apresenta os protagonistas e as grandes opções que nos trouxeram até aqui. Produzido para a RTP 2 no âmbito do Instituto de História Contemporânea, o filme tem montagem de Edgar Feldman e locução de Fernando Alves.

A estreia televisiva teve lugar na RTP2 a 25 de Abril de 2012. Desde esse momento, o documentário está disponível na íntegra em www.donosdeportugal.net.

Donos de Portugal é baseado no livro homónimo de Jorge Costa, Cecília Honório, Luíz fazenda, Francisco Louçã e Fernando Rosas, publicado em 2010 pelas edições afrontamento e com mais de 12 mil exemplares vendido.

Pessoalmente adoro como termina o documentário:

"O sistema financeiro abandonou assim, definitivamente, o crédito aos sectores produtivos da economia. Portugal torna-se cada vez mais dependente. Produz cada vez menos daquilo que precisa; o que consome é cada vez mais importado.

Com a crise financeira internacional, este castelo de dívidas desmorona-se. O desemprego gera despesa social e diminui a cobrança fiscal. Os impostos sobre o consumo geram pobreza e contraem a produção. Os serviços públicos degradam-se rapidamente. As perdas dos bancos privados são socializadas.

Sob o regime da dívida, a própria democracia é ameaçada."


É caso para dizer:


Links úteis:

O site: www.donosdeportugal.net
No Facebook: facebook.com/DonosDePortugal

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Duelo desigual... de Henrique Monteiro.


"Não obstante a tragédia e o terror que nasce da intolerância, é reconfortante saber que o humor é uma arma profundamente eficaz contra aqueles que a promovem. Ele persistirá triunfante muito além de todos os males que nos tolhem a liberdade. Não há força que o elimine nem doutrina que o amordace. É uma luta sem vitória.

Para os colegas que sucumbiram no exercício desse bem precioso a certeza de que o lápis continuará afiado e o papel continuará branco e apetecível."

Henrique Monteiro, em henricartoon.pt.

Nenhum valor à vida humana e muito menos à liberdade de expressão...

Num autêntico ataque à liberdade, pelo menos 12 pessoas morreram e dez ficaram feridas, esta manhã num tiroteio no interior da redacção da revista satírica francesa "Charlie Hebdo", em Paris, confirmou mais tarde François Hollande. Relembro que foi o seminário que publicou, em 2012, um polémico cartoon satírico de Maomé.

Durante mais de dez minutos, atacantes vestidos de negro fizeram mais de 30 disparos contra os jornalistas e funcionários do seminário. Como resultado, três ilustradores da publicação, Cabu, Charb e Wolinski, morreram durante o ataque, assim como um dos editores e pelo menos um polícia (cuja morte foi registada e publicada num chocante vídeo, mais tarde retirado do youtube.

Informações iniciais indicam que o ataque foi levado a cabo por dois homens, armados com uma espingarda automática "Kalashnikov" e com um lança-rockets. A edição online do seminário, que publicava novas imagens justamente todas as quartas, foi igualmente alvo de um ataque informático durante a noite, com a página de acolhimento a ser substituída por uma fotografia da mesquita de Meca, em plena peregrinação, com as palavras, em inglês e turco "não há outro Deus que não Alá".


Para quem não saiba, o Charlie Hebdo é uma publicação satírica, de esquerda, fundada em 1969. É fortemente anti-religiosa e publica artigos provocatórios, cartoons e piadas quer sobre o Cristianismo, o Islão, o Judaísmo, bem como sobre política e cultura.

Entretanto, vários cartoonistas já reagiram a este atentado, e as suas repostas (em desenho) podem ser vistas aqui, ficam aqui alguns exemplos:


Agora, para além de saber onde se encontram estes terroristas e quem são ao certo, resta saber como estes eventos irão afectar a opinião publica, sobretudo francesa, para as questões da imigração e tolerância religiosas na Europa até porque "A acção do fascismo islâmico só fortalece o fascismo europeu"...

Quais são as principais diferenças entre os "bons e os maus"? Uns utilizam o seu talento de forma aberta e sem censuras (e se esconderem) para divulgar a sua opinião, depois voltam para casa de consciência limpa. Os outros, impõem a sua opinião aos outros através da violência sem respeito pela vida e dignidade humanas, sempre mascarados, e depois fogem para um esconderijo com as mãos sujas de sangue...

Para mais informações, poderão consultar os seguintes links:

Jornal de Notícias: http://www.jn.pt/

"Acção do fascismo islâmico só fortalece o fascismo europeu":operamundi.uol.com.br

Os atentados mais mortíferos das últimas décadas em França:www.jn.pt

sábado, 3 de janeiro de 2015

Democracia vs. Ineptocracia ... um neologismo bem real ...

Sabe o que é uma ineptocracia? Não? Mas devia... uma vez que estamos a viver numa....

Em resumo, trata-se de um neologismo para um governo/instituição regido por pessoas que são incapazes para a função, ou, em melhor detalhe:

"Sistema de governo onde os menos capazes de liderar, são eleitos pelos menos capazes de produzir, e onde os membros da sociedade com menos chance de se sustentar ou ser bem sucedidos são recompensados com bens e serviços pagos pela riqueza confiscada de um número cada vez menos de produtores."




Soa a algo familiar? E a ideia não é recente, até porque já foi apontada anteriormente pela escritora e filósofa Ayn Rand:

"Quando você perceber que, para produzir, precisa de obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negoceia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho e, que as leis não nos protegem deles mas, pelo contratrio, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto-sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que a sua sociedade está condenada.

Se quizer descobrir mais sobre Ayn Rand: wikipedia/emPortugueswikipedia/emIngles

Chineses da REN afundados em casos de corrupção ... porque é que me cheira que ainda vai sobrar para nós?!

Acabo de me deparar com um artigo do jornal i, publicado em 21 de Junho de 2014 mas que só agora vi e, se não me falha a memória, nem apareceu noticiado (pelo menos por cá....), intitulado Chineses da REN afundados em casos de corrupção e na mira Pequim, onde, tal como indica o título, é apontado o facto dos parceiros chineses escolhidos pelo governo português para mandar na energia nacional estão afundados em escândalos de corrupção, estando já na mira das autoridades de Pequim para mais multas e sanções... porque é que me cheira que ainda vai sobrar para nós?!


"Cada tiro, cada melro. Parceiros chineses escolhidos por Portas e Passos para mandar na energia portuguesa envolvidos em fraudes e corrupção..."
- Filipe Paiva Cardoso, Jornal i

Segundo o artigo, a State Grid e a Three Gorges Corp, os maiores accionistas da REN e da EDP, respectivamente, "estão a revelar-se enormes antros de corrupção, a uma escala dificilmente imaginável" reflecte a Stratfor, consultora, no rescaldo da análise às conclusões da investigação inicial a este sector na China levado a cabo pelo Gabinete Nacional de Auditoria da China (GNAC). Este gabinete apurou que em apenas quatro meses, de Abril a Julho de 2013, houve o "roubo e desvio através de irregularidades contratuais" de mais de 1,1 mil milhões de dólares, na State Grid.

"Até ao momento as autoridades de Pequim ainda não acusaram formalmente a State Grid ou a sua administração, mas Liu Zhenya, chairman da maior accionista da REN, é um dos focos da investigação. A adjudicação pela State Grid de 40 contratos no valor de 200 milhões de euros sem qualquer concurso é uma das irregularidades apontadas pelo GNAC."
- Filipe Paiva Cardoso, Jornal i

Tal como em Portugal, o sector energético na China é um quase-monopólio, cujo excesso de posição dominante por parte de poucas empresas tem impedido uma maior eficiência nos investimentos:

"Os resultados da auditoria marcam o início de uma análise mais aprofundada à State Grid e a outros nós das cadeias de fornecimento de energia da China ."

"Em alternativa, o ataque à corrupção pode apenas significar que Pequim está consciente do pesado investimento que é necessário para atingir os objectivos de longo-prazo em termos energéticos procurando assim reduzir a ineficiência e desperdício relacionados com a corrupção..."
- Filipe Paiva Cardoso, Jornal i

Entretanto por cá se isto foi noticiado passou praticamente despercebido. Fazendo minhas as palavras de um dos comentários a esta notícia: "Como parece que não temos por cá corruptos suficientes, importamos mais alguns, com os vistos Gold e com estas privatizações. Brilhante!"

E volto a repetir... porque é que me cheira que ainda vai sobrar para nós?!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Francisco e as formas modernas de escravatura, na mensagem de Ano Novo

Para dar entrada ao novo ano de 2015, gostaria de partilhar convosco uma notícia sobre a mensagem do Papa Francisco nesta quinta-feira, documentada no artigo do Público: Papa pede luta contra as formas modernas de escravatura, e, embora não seja católico, considero este homem, ou melhor, a sua mensagem, como uma inspiração para o nosso tempo e sociedade.

Nesta quinta-feira o Papa Francisco pediu que os fiéis de todas as religiões lutem "contra as formas modernas de escravatura", durante a homilia, na missa que celebrou no Vaticano, por ocasião da Jornada Mundial da Paz. As "escassas" ou "inexistentes" oportunidades de trabalho são uma das causas da escravatura moderna, afirmou Francisco na primeira missa do ano.


Nesta primeira missa do ano, o Papa mencionou como causas da escravidão moderna a pobreza, o sub-desenvolvimento e a exclusão combinadas com a falta de acesso à educação ou "com a realidade caracterizada pelas escassas, para não dizer inexistentes, oportunidades de trabalho".

Francisco afirmou (e esta é para mim a parte mais importante da mensagem) ainda que a corrupção "acontece no centro de um sistema económico onde está o Deus dinheiro e não o homem, a pessoa". Apontando a prostituição e o tráfico de órgãos também como formas de escravidão moderna, o Papa destacou que o "direito de toda a pessoa a não ser submetida à escravidão, nem à servidão" deve ser "reconhecido como um direito internacional" e "como norma irrevogável" (palavra com significado por cá...).

Por último, para além de fazer referência a actual situação de muitos imigrantes, referiu-se aos conflitos armados, à violência, ao crime e ao terrorismo para dizer que são "outras causas da escravatura". Insistiu ainda que muitas pessoas são sequestradas para serem vendidas ou recrutadas como combatentes e exploradas sexualmente, enquanto outras se vêem forçadas a emigrar, deixando tudo o que possuem.

"Todos estamos destinados a ser livres, todos chamados a ser filhos, e cada um, de acordo com a sua responsabilidade, a lutar contra (estas) formas modernas de escravatura"...

Esta mensagem vem reforçar o pedido que fez no passado dia 12 de Dezembro, quando disse que as empresas devem oferecer aos funcionários condições de trabalho dignas e salários adequados e classificou como forma de opressão moderna "a corrupção de quem está disposto a fazer qualquer coisa para enriquecer". Esta mensagem, segundo a agência Reuters, foi enviada aos chefes de Estado e Governos, instituições internacionais e paróquias católicas.


Em jeito de terminar esta mensagem e sobre o tópico da escravatura moderna, o índice global da escravidão, divulgado pela segunda vez em Novembro pela Fundação Walk Free, concluíu que existiam em todo o mundo quase 36 milhões que viviam como escravos: vítimas de tráfico humano e forçadas a trabalhar em fábricas ou a cumprir trabalhos duros, vítimas de dívidas abusivas ou mesmo nascidas em cativeiro. Os lucros do trabalho forçado estão estimados em aproximadamente 150 mil milhões de dólares anuais pela Organização Mundial do Trabalho.

Caso desejem saber mais deixo aqui alguns links:

35,8 milhões de escravos em todo o Mundo: publico.pt/
Quantos escravos trabalham para si? publico.pt/sociedade
Fundação Walk Free (Brasileiro): walkfree.org/pt-br
Organização Mundial do Trabalho (Inglês): www.ilo.org/global