terça-feira, 31 de março de 2015

20 milhões para o lixo ... mais uma história de sucesso do metro de Lisboa!

O momento em que a conjugação de "cortar nas gorduras" e a "gestão danosa" de certos administradores resulta em potenciais falhas na segurança deste transporte publico, ao que parece numa só linha, não prenuncia nada de bom... e isto será uma tendência em todos os transportes... e recordo que nunca se pagou tanto por uma viagem de metro...

A segurança na Linha Vermelha do metro de Lisboa, entre as estações de São Sebastião e o Aeroporto, passou a ser estabelecida por um sistema com cerca de 37 anos... isto porque o metropolitano de Lisboa deu ordem para retirar todo o sistema de segurança e condução automático, que dispensava a intervenção directa do condutor, avaliado no valor de 20 milhões de euros, releva o Jornal de Notícias...

O equipamento foi retirado, em toda a linha vermelha, dos comboios e das paredes laterais do cais das estações, porque a empresa não mostrou disponibilidade para estender o mecanismo às novas estações até ao aeroporto da Portela, como defendiam relatórios elaborados internamente.


Ou seja, entre manter este investimento, que começou a ser planeado aquando da Expo"98, e deitar para o lixo o sistema, a administração da empresa optou então pela segunda via, ignorando os relatórios dos técnicos e passando a segurança na Linha Vermelha, entre São Sebastião e o Aeroporto, a ser estabelecida simplesmente pelo Dispositivo de Travagem Automático de Via (DTAV), com cerca de 37 anos. O JN acedeu a vários documentos, cedidos por fonte ligada ao Metropolitano, onde se alertava a administração para as questões de segurança e para o facto de esta estrutura de transporte estar a tornar-se obsoleta.

"O DTAV é um controlo pontual para o excesso de velocidade. Mas não impediu a colisão, por exemplo, que ocorreu recentemente no aeroporto e que deixou o comboio tipo acordeão. A empresa ocultou essas imagens, porque o maquinista estava cansado e acelerou na saída da estação do aeroporto. Acabou por embater no paredão porque não havia nenhum sistema de travagem. Em 2025 o metropolitano de Lisboa será dos mais obsoletos do mundo, porque já o é, agora, em termos europeus. Semelhante só na Roménia e na Bulgária", explicou ao Jornal de Notícias, sob anonimato, um técnico do metro de Lisboa. O JN também teve acesso a vários documentos onde se alertava a administração para várias questões de segurança e para o facto desta estrutura de transporte estar a tornar-se obsoleta.

O sistema desinstalado foi o ATP/ATO (Automatic Train Protection/Automatic Train Operation) e com este mecanismo, o maquinista pouco mais faz do que gerir o sistema, porque a condução é automática. A sua implementação começou a ser equacionada nos anos 90 do séc. XX, quando as composições passaram de dois tripulantes para um. Na altura, o sistema já era usado nas linhas de metro de Paris e Milão.

O concurso público internacional, vencido pelos franceses da CSE, foi lançado em 1999 de modo a que no início da Expo'98 o sistema estivesse pronto apenas na linha vermelha. No entanto, com o abatimento da estação dos Olivais, o sistema só começou a funcionar no ano 2000. A situação manteve-se até 2009, quando aquela linha teve de ser alargada até São Sebastião, de um lado, e até ao aeroporto do outro.

E pergunto-me eu, quando se projectou esta linha, e quando se planearam estas expansões, ninguém se lembrou de perguntar: O que fazer com o sistema de segurança? Se a linha for expandida, este pode (e deverá) ser expandido?


"A administração foi alertada que era necessário o investimento nos novos quilómetros de linha porque senão a sinalização clássica lateral e a condução manual iriam diminuir a velocidade de circulação", disse o técnico.

O Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres questionou a empresa sobre este facto mas o organismo regulador mostrou-se satisfeito com a segurança que o DTAV assegura. O Metro de Lisboa não quis responder às questões apresentadas pelo Jornal de Notícias.

Já no período de 2012 a 2014, os comboios do Metro de Lisboa circularam sem travões de emergência devido a uma falha nos freios electromagnéticos que obrigou à sua desactivação. Esta foi uma das causas para que, nesse período, as composições abrandassem a velocidade nos túneis de 60 KM/H para 45 km/h (nesta altura lembro-me que se dizia que era para poupar energia, e assim poupar dinheiro...). A Procuradoria-Geral da República abriu um inquérito ao caso, mas concluiu que não teria ocorrido "eventual falta de segurança".

Futuras expansões do metropolitano de Lisboa?

A Federação de Sindicatos de Transportes e Comunicações já reagiu à notícia do JN. "Importa dizer que a segurança do metro está a ser garantida pelos seus trabalhadores já há muito tempo, apesar das políticas de desinvestimento levadas a cabo pelo conselho de administração da empresa", disse, esta terça-feria, à Lusa, a dirigente sindical Anabela Carvalheira

O JN destaca ter tido acesso a vários documentos, cedidos por fontes ligadas ao metro, onde se alertava para as questões de segurança e para o facto de esta estrutura de transportes estar a tornar-se obsoleta. Em declarações à Lusa, a dirigente da FECTRANS salientou que esta situação não "é nova, nem é uma surpresa".

"Trata-se de políticas de desorçamentação, de investimentos feitos sem que ninguém seja responsabilizado por eles e que levaram a esta dívida estrutural no metro. Obviamente que quem faz um investimento tão grande como o do mecanismo como o ATP/ATO tinha de perceber que deveria dar continuidade ou então este investimento não fez qualquer sentido", disse.

No entender da dirigente sindical, apesar das políticas eleitoralistas ou de desinvestimento ninguém vai ser responsabilizado. Anabela Carvalheira explicou que o Metropolitano de Lisboa não sofre qualquer investimento desde o anterior governo.

"O material gasta-se, as coisas vão-se tornando obsoletas. É como na nossa casa, se não renovarmos os equipamentos e não fizermos manutenção adequada, as coisas vão ficando gastas e usadas. Até hoje não houve problemas no metro por causa da competência dos trabalhadores e do seu envolvimento para que as coisas corram bem", disse.

Contactado pela Lusa, o Metropolitano de Lisboa remeteu um esclarecimento para mais tarde.

A rede do Metro de Lisboa está dividida por quatro linhas que totalizam 43 quilómetros de extensão. Ainda está por concluir o prolongamento da linha azul, que se iniciou em 2009, entre as estações da Amadora Este e da Reboleira.


Fontes:
Metro de Lisboa atira para o lixo 20 milhões
Federação de Sindicatos de Transportes diz que está garantida segurança no Metro de Lisboa

PS: A propósito de Metro de Lisboa: no próximo dia 10 de Abril vai haver greve dupla nos transportes de Lisboa, quer do Metro quer da Carris, ambas de 24 horas... se utiliza um destes, ou até os dois, sexta feira dia 10 não vai ser um bom dia para ir para o trabalho...

segunda-feira, 30 de março de 2015

A mentira na qual vivemos ... para ver e reflectir!

Não direi que concordo a 100% com o que é dito neste filme de 8 minutos, mas mesmo assim acho que demonstra a (nossa) realidade nos dias de hoje... vejam e pensem no assunto, e partilhem para que outros possam fazer o mesmo!

The Lie We Live

"Exposing the truth about our corrupt world. My name is Spencer Cathcart and this is a short documentary film I made & wrote. ***NOTE: For unknown reasons Facebook blocked the short link so to share you have to paste the full link. It's also available on my Facebook page: facebook.com/Freshtastical"

domingo, 29 de março de 2015

Porque o que era "OK" ontem poderá não o ser amanhã...

Estas são imagens de 28 anúncios do século passado (alguns provavelmente terão mais de 100 anos) que outrora nada de errado tinham, mas que hoje nos parecem abomináveis...

Estas são algumas das razões porque devemos continuar a lutar por uma sociedade melhor !






























sexta-feira, 27 de março de 2015

Taxa de desemprego esconde número real de desempregados, sem grande surpresa...

Segundo a LUSA, o Observatório sobre Crises e Alternativas estima que a taxa de desemprego "real" tenha chegado aos 29% no segundo semestre de 2014.


O mercado de trabalho em Portugal encontra-se numa "situação depressiva" e a descida gradual dos números do desemprego, a partir de 2013, tem sido contrariada pelo aumento do número de desempregados que não é contabilizado pelas estatísticas, revela um estudo socioeconómico.

"A descida gradual do número de desempregados, a partir de 2013, tem sido paulatinamente contrariada pelo aumento do número de desempregados que não é reconhecido pelas estatísticas e, pela primeira vez, os valores do desemprego "não oficial" [...] ultrapassaram os números do desemprego oficial", alerta o Observatório sobre Crises e Alternativas numa análise sobre Crise e mercado de trabalho: Menos desemprego sem mais emprego?, divulgada na quinta-feira.

De acordo com a análise feita pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, considerando as diversas formas de desemprego, o subemprego e estimativas prudentes sobre a situação laboral dos novos emigrantes, a taxa real de desemprego poderia situar-se, no segundo semestre de 2014, em 29% da população activa, caso os trabalhadores emigrados tivessem ficado no país.

Imagem retirada de gotadeagua53.blogspot.pt.

No entender do Observatório, em vez de uma descida do desemprego, "é talvez mais adequado falar-se numa situação de estabilização do desemprego em níveis bastante elevados e de uma estabilização do emprego num nível bem mais reduzido do que o estimado no início do programa de ajustamento".

E acrescenta que "a criação de emprego verificada recentemente assenta em bases frágeis", ou seja, excluindo dos valores oficiais os desempregados ocupados - quantificados como empregados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) - ter-se-ão destruído 463,6 mil postos de trabalho de 2011 até ao 2º semestre de 2013 e criado, a partir daí, apenas 37,9 mil postos de trabalho.

Por último, o Observatório salienta que o desemprego actual "é um desemprego mais desprotegido do que antes da vigência do programa de ajustamento" e que o emprego gerado em Portugal assenta, sobretudo, em actividades precárias e em estágios "mal remunerados e sem perspectiva de continuidade e de verdadeira inserção no mercado de trabalho".

terça-feira, 24 de março de 2015

CDS-PP Quer Censurar Este Vídeo!

O caso dos submarinos é uma das maiores vergonhas de sempre para a Justiça portuguesa. Apesar da Alemanha ter determinado que houve portugueses corrompido na compra dos submarinos, o nosso sistema judicial nada conseguiu apurar e o caso foi arquivado. Ontem, Diogo Feio, do CDS-PP, tentou pressionar o Bloco de Esquerda a retirar da Internet o vídeo que explica todo o caso. A tentativa de censura de Diogo Feio saiu-lhe pela culatra.

O vídeo foi criado pelo Esquerda Net e e está aqui alojado:


O dirigente do CDS Diogo Feio está preocupado com a "sanidade política" das referências aos submarinos no Esquerda.net

Saldo orçamental passa de excedente a défice de 240 milhões... no espaço de um mês!

Em Janeiro, o saldo orçamental das Administrações Públicas registou um excedente de 549 milhões de euros, mas em Fevereiro voltou ao vermelho, registando um défice de 240 milhões de euros em termos acumulados, informa o Ministério das Finanças, numa nota enviada às redacções.

Receita efectiva aumentou 153 milhões de euros, mas a despesa total subiu 365 milhões, diz a DGO.

"Até Fevereiro, de acordo com a execução orçamental hoje divulgada pela Direcção Geral do Orçamento (DGO), o saldo orçamental provisório das Administrações Públicas, comparável com o objectivo para o total do ano, foi de -240 milhões de euros e o excedente primário cifrou-se em 930 milhões de euros".

Agora pergunto-me: temos os cofres cheios de quê mesmo?

Génesis 9:7

Dada a notícia, da semana passada, intitulada com a já famosa expressão: "Vocês que são jovens, multipliquem-se", onde também se fala de cofres cheios para pagar salários, pensões e fazer reembolsos da dívida, deparei-me com uma imagem cómica que vos queria partilhar... embora a linguagem usada possa ser um algo ofensiva...

Este e outros em Facetoons...

Já agora para os mais curiosos aqui fica a passagem de Génesis 9:7

"Mas vós, frutificai e multiplicai-vos; povoai abundantemente a terra, e multiplicai-vos nela."

segunda-feira, 23 de março de 2015

O valor da arte moderna...

Acabei de assistir a um vídeo publicado pelo site de humor tipowtf.biz, e creio que é importante pois ajuda-nos a aperceber do quão relativo pode ser o valor que damos à arte moderna .... para a próxima comprem um quadro destes por 10-20 euros e digam a quem vier a vossa casa que é um quadro que vale centenas.... se enganou estes apreciadores da arte, também é capaz de enganar qualquer um...


"Este gajo decidiu pegar num quadro que comprou na Ikea por 10€ e coloca-lo num museu e pedir a opinião das amantes de obras de arte que lá andavam!

Como era de esperar os peritos fartaram-se de gabar a obra sem perceber que na verdade era um daqueles quadros baratos que qualquer pessoa pode comprar no Ikea por poucos euros.

Um vídeo engraçado que deve ter deixado os “participantes” um pouco envergonhados!"


Não, isto não é uma parede pintada de azul com uma risca branca no meio ... trata-se de um quadro chamada "Unicidade VI ", do pintor expressionista abstracto Barnett Newman, vendido em Maio de 2013 num leilão da Sotheby por um recorde de 43,8 milhões de dólares...

sábado, 21 de março de 2015

Milhares de carros estão sendo abandonados e você ficará chocado quando souber o motivo...

Recebi esta informação via email de um amigo e após alguma pesquisa encontrei o artigo original. Tinha alguma ideia de que isto se passava, mas nunca imaginei a esta escala!

Isso é o que a indústria automóvel não quer que você veja. Desde que a super produção chegou ao seu nível máximo em 2009, milhares de carros foram desperdiçados. Muitas dessas fotos remontam a pouco depois da recessão, e mesmo assim, o problema com as sobras ainda se mantém até hoje.

Brilhante, bonito e novo… e rapidamente enferrujando e inútil.

Esta foto é de um monte de carros que sobraram no Porto de Sheerness em Kent, na Inglaterra. Há centenas de lugares exactamente como este no mundo todo, cheio de carros que os produtores não conseguiram vender.

Isso é verdade. Você está vendo uma das muitas reservas de carros não vendidos no mundo.

As pessoas não estão comprando carros a mesmo ritmo de antes da recessão. Quantas famílias, que você conhece, compram um carro novo a cada ano? Por isso, milhões de carros ficam para morrer nestes parques de estacionamento em todo o mundo.

Baltimore, Maryland, EUA.

Bem do lado da estrada Broening em Baltimore, mais de 57.000 carros se encontram num enorme estacionamento. No começo eu me perguntava porque eles não colocavam simplesmente à venda, mas a indústria automobilística não vai reduzir seus preços drasticamente por uma razão: Não é possível vender um carro por 500 dólares e esperar alguém comprar por 15.000, é impossível.

Nessa imagem podemos ver dezenas de milhares de carros tomando sol o dia todo na Espanha.

Algum tempo após a sua produção (e se não forem vendidos entretanto) estes automóveis são levados de um monte de concessionárias para dar espaço para a nova produção. O que sobra é um pouco triste… filas e mais filas de carros em perfeito estado.

O grande problema resume-se a: a indústria automóvel não pode simplesmente deixar de produzir carros novos. Isso significaria o fechamento de fábricas e demitir a dezenas de milhares de pessoas, além do mais, piorar a recessão. O efeito dominó seria catastrófico para a indústria do aço e de outras matérias primas usadas num veículo. Mas, quando a oferta supera a procura, alguém fica com o excesso. Depois da recessão, as famílias já não compram um carro novo a cada ano... porque será?!

São Petersburgo, Rússia. Carros europeus importados que não foram vendidos e são deixados a enferrujar num aeroporto.

Então se o ciclo de comprar, usar e trocar acabou-se, se as pessoas usam seus carros durante muito mais tempo depois de comprados e, pelo que se viu até agora, lotes abertos em redor do mundo simplesmente se converteram em cemitérios improvisados para os carros que não se venderam qualquer um se pergunta: por que não se reciclam esses carros ou pelo menos partes deles?

Porto de Civitavecchia, na Itália.

Até pode-se pensar que os fabricantes de automóveis poderiam utilizar pelo menos algumas das partes. Eles ainda acham que vão vender esses carros?

Estas imagens são particularmente frustrantes se você é proprietário de um carro velho e bem que o desejava trocar por um carro novo... 

Porto de Valencia, Espanha

Os carros, quando expostos ao ar livre, não duram muito tempo. Quando um carro fica ao relento, sem qualquer tipo de manutenção, todos os óleos se vão para o fundo dos tanques que armazenam esses mesmos óleos, e logo começa a corrosão que, combinada com a acção destrutiva dos elementos, danifica todas as partes internas do motor.

A super produção não é uma falha só do sistema nos Estados Unidos ou de uma só fábrica de automóveis, este é um problema mundial. Se não for encontrada uma maneira de reutilizar esses carros, milhares de carros abandonados continuarão preenchendo espaços vazios e a gerar um desperdício de recursos. Isso é realmente lamentável.

É claro que esta questão me fez lembrar logo da super produção de armas e veículos militares nos EUA, onde ocorre o mesmo problema mas com tanques e aviões ... e tudo pago pelo dinheiro dos contribuintes (norte americanos)....

O "cemitério de aviões", na base da força aérea Davis-Monthan em Tucson, Arizona. 

Links relacionados:

Thousands Of Unsold New Cars Are Being Abandoned And Left To Die In Lots. This Is Insane.
Old Car City U.S.A. is Full of Abandoned Muscle Cars and Classics
The Ten Most Unbelievable Abandoned Car Factories
6 Images of Abandoned Weaponry You Won't Believe Are Real

quinta-feira, 19 de março de 2015

Intervenção Militar Já ....

Embora esta imagem tenha sido criada como resposta às mais recentes manifestações no Brasil, sinto que o cerne da mensagem também se pode aplicar cá em Portugal... sobretudo quando se houve alguém a dizer "o que nos fazia falta era um Salazar... para por isto na ordem....".


quarta-feira, 18 de março de 2015

Queixa de trabalhadora do hipermercado Continente ... a triste realidade de muitos trabalhos em Portugal

Mais uma denuncia relacionada com as (más) condições quer de trabalho da cadeia Modelo-Continente... O que mais me assusta nesta história é que casos como este começam a ser cada vez mais comuns, e aplaudidos quer pelos patrões quer por dirigentes políticos como casos de sucesso, modelos a seguir...

Leiam esta queixa de uma trabalhadora do Continente e decidam por vocês mesmos...


Os hipermercados são um lugar horrível: cínico, falso, cruel. À entrada, os consumidores limpam a sua má consciência reciclando rolhas e pilhas velhas, ou doando qualquer coisa ao sos hepatite, ao banco alimentar ou ao pirilampo mágico. Dentro da área de consumo, cai a máscara de humanidade do hipermercado: entra-se no coração do capitalismo selvagem.

O consumidor, totalmente abandonado a si próprio (é mais fácil de encontrar uma agulha num palheiro do que um funcionário que lhe saiba dar 2 ou 3 informações sobre um mesmo produto), raramente tem à disposição mercadorias que, apesar do encanto do seu embrulho, não dependam da exploração laboral, da contaminação dos ecossistemas ou de paisagens inutilmente destruídas. Fora do hipermercado, os produtores são barbaramente abusados pelo Continente (basta que não pertençam a uma multinacional da agro-indústria), que os asfixia até à morte e, quando há um produtor que deixa de suportar as impossíveis exigências que lhe são impostas, aparece outro que definhará igualmente, até encontrar o mesmo fim. Finalmente, nas caixas do hipermercado, para servir o consumidor como escravos idênticos aos que fabricaram os artigos comprados, estamos nós.

O hipermercado está portanto no centro da miséria que se vive hoje no mundo. O consumidor, o produtor e nós temos uma missão comum: contribuir para que os homens mais ricos do planeta fiquem cada vez mais ricos – contribuir para que a riqueza se concentre como nunca antes na história. Se somos todos diariamente roubados e abusados, é por este mesmo e único motivo.


Vou-vos relatar apenas a minha banal experiência diária (sem pontos de exclamação já que o escândalo é comum a qualquer um dos tópicos que irei descrever). Espero que sirva de alguma coisa, apesar de saber que ninguém se incomodará muito com ela. Afinal, é a mesma selva que está já em todo o lado.

1 – salário

Trabalho 20h semanais em troca de 260€ mensais, o que dá pouco mais de 3€ por hora. Que isto se possa pagar a alguém em 2015 devia ser motivo de vergonha para um país inteiro. Que seja um milionário a pagar-me esta esmola devia dar pena de prisão efectiva.

2 – precariedade

Já vou no terceiro ‘contrato’ de seis meses e ainda não passei a efectiva. Quando chegar a altura em que poderei finalmente entrar para o quadro, serei dispensada como tantas outras. A explicação para a quebra brutal na natalidade está encontrada: afinal, alguém consegue ter filhos nestas condições?

3 – trabalho não remunerado fora do horário de trabalho

Se o futuro é uma incógnita, o presente é sempre igual: todos os dias, sem excepção, trabalho horas extra grátis que me são impostas. O meu horário de saída é às 15h mas, depois dessa hora, ainda tenho para executar várias tarefas obrigatórias, que me levam entre 15 a 20 minutos diários, como arrumar os cestos das compras e os artigos que os clientes deixam ficar na caixa ou guardar o dinheiro no cofre. No quase ano e meio que levo a trabalhar no Continente, devo ter saído uns 5 dias, no total, à hora certa. E já cheguei a sair uma hora e meia depois das 15h, apesar de os meus superiores saberem muito bem que dali ainda vou para outro trabalho e de, por isso, eu ter sempre imensa pressa para não me atrasar.

4 – trabalho em dias de folga

Para perpetuar a falta de funcionários na loja, obriga-se aqueles que lá estão a trabalharem pelos que fazem falta, oferecendo assim todos os meses algumas horas do seu tempo de vida e de descanso ao patrão, que deste modo poupa no número de salários a pagar. Mais absurdo: num dia em que esteja de folga, posso ser convocada para ir à loja para fazer inventário. Sou obrigada a ir, apesar de estar na minha folga, e apenas posso faltar mediante justificação médica. E, como se não bastasse, até já aconteceu eu ser avisada no próprio dia da folga.

5 – cada segundo de exploração conta

Neste ano e meio, cheguei uma única vez 5 minutos atrasada e a minha superior foi logo bruta e agressiva comigo, tendo-me gritado e agarrado pelo braço, apesar de supostamente haver uma tolerância para se chegar até 15 minutos atrasada. Nunca mais voltei a atrasar-me. Nem 10 segundos. (Já sair pelo menos 15 minutos mais tarde do que a hora prevista, isso é todos os dias.)

6 – formatação do corpo

Relativamente à aparência física, devemos formatá-la meticulosamente, ao gosto sexista do patrão. Na loja onde trabalho, várias colegas tiveram por isso de eliminar os seus pírcingues, apagar também a cor das unhas (lá só é admitido o vermelho) e uma até teve de mudar de penteado. O patrão quer que nos apresentemos como autênticas bonecas. Faz lembrar os escravos que eram levados para as Américas, a quem se retiravam as suas marcas corporais para serem explorados sem outra identidade que a de escravos (seres humanos transformados em mercadorias).

7 – pausa para comer/urinar/descansar é crime

Mas o pior de tudo é mesmo o que acontece durante o tempo de trabalho. Os meus superiores querem que eu esteja as 4 horas sentada a render o máximo que é humanamente possível, por isso, dificultam ao máximo as minhas pausas – que são legais e demoraram séculos a conquistar – para ir comer qualquer coisa ou ir simplesmente à casa de banho. A única coisa que me autorizam a levar para junto de mim, no meu posto de trabalho na caixa, é uma garrafinha de água previamente selada e nada mais. De resto, o que levar para comer e beber (sumos e iogurtes líquidos não podem ir comigo para a caixa) tenho que deixar no Posto de Informações e só tenho acesso quando da caixa telefono para lá. Normalmente, no Posto, fazem que se esquecem desses pedidos, passando uma eternidade até eu finalmente conseguir ir comer. E, quando a muito custo lá consigo obter autorização para ir comer, sou pressionada para ser ultra rápida, pelo que em vez de mastigar estou mais habituada a engasgar-me. O mesmo acontece com as idas à casa de banho, sempre altamente dificultadas.

8 – gerem-nos como se fôssemos animais

Há uns tempos, uma colega sentiu-se mal quando estava na caixa, fartou-se de pedir licença para ir à casa de banho, mas foi obrigada como de costume a esperar tanto, tanto que lá se vomitou, quase em cima de um cliente.

Não se calem e denunciem todos os abusos nas redes sociais e nos blogs.

(gostava imenso de assinar, mas os 260€ do salário fazem-me tanta falta)

Fonte: obeissancemorte.wordpress.com
- artigo do Jornal Q

Assim conseguimos perceber como a Sonae MC é a maior empresa portuguesa de retalho e distribuição, sendo a Continente Modelo uma das principais marcas dentro do grupo Sonae, e como Belmiro de Azevedo um dos portugueses mais ricos, surgindo até na 687.ª posição na lista das personalidades mais ricas do mundo de 2014, com uma fortuna avaliada em 2,5 mil milhões de dólares, segundo a Forbes. Uma empresa que nunca paga a pronto aos seus fornecedores, embora nenhum cliente possa sair da caixa sem pagar as compras ... e onde pelos vistos os trabalhadores nem são tratados como pessoas...

segunda-feira, 16 de março de 2015

O empresário, o moralista, o esquecido e o “Expresso” ... mais um exemplo de isenção dos media...

A isenção (política) dos media, ou melhor a falta desta, é um tópico bastante frequente, aliás, diria mesmo do conhecimento geral e até um pouco vulgar: sabe-se que usualmente a RTP, e a Antena 1, está normalmente do lado do governo e que, por exemplo, o CM e a TVI têm uma longa "tradição" de não gostarem de Sócrates... mas após a leitura deste artigo apresentado hoje pelo i fico a pensar até que ponto a falta de isenção pode ir? 

Pergunto-me até: qual é mesmo o dever dos media?

Deixo uma cópia do artigo do i para verem por vocês mesmos...

O empresário, o moralista, o esquecido e o “Expresso”

Apesar da crescente nebulosa sobre o passado empresarial do cidadão Pedro Passos Coelho interessa-me mais perceber o que aconteceu no caso das suas dívidas à Segurança Social quando já desempenhava o cargo de primeiro-ministro. 

A fazer fé nas declarações ao “Público”, Passos Coelho teve conhecimento da dívida em 2012. Segundo o próprio, não efectuou o pagamento de imediato mas tencionaria fazê-lo assim que deixasse de ser primeiro-ministro – considerando que não pensará perder as próximas eleições –, em 2019, vinte anos depois de a contrair. 

Entretanto o “Expresso” revelou mais informações sobre este caso, designadamente, a cópia de extractos de conta que alertam para uma dívida de 7534,82 €, contraída entre 1999 e 2004, aos quais teria tido acesso em 2012. Escreve o jornal que, à época, recebeu do primeiro-ministro uma declaração de não dívida emitida a 26-11-2012. Esta declaração bastou para que o “Expresso” decidisse esquecer o assunto. Recordemos o que se passava em Portugal.

A 7 de Setembro de 2012 Pedro Passos Coelho anuncia o aumento da TSU, a 15 há gigantescas manifestações contra a Troika por todo o país. A 21, dezenas de milhar de pessoas juntam--se à porta do Conselho de Estado para exigir a demissão do governo e a 29 a CGTP enche o Terreiro do Paço. A 13 de Outubro chega a Lisboa a marcha nacional da CGTP e acontece uma manifestação cultural de protesto e a 26 há mais manifestações contra a aprovação do OE2013. A 12 de Novembro há desfiles contra a presença de Merkel e a 14 uma impressionante greve geral. 

Sabe-se agora que, no decorrer destes dias, um jornal detinha uma informação que teria derrubado a imagem de um primeiro-ministro moralista, cumpridor e zeloso pagador de dívidas. O “Expresso” tomou a decisão política de esquecer o assunto e Pedro Passos Coelho terá tido garantias que a notícia não sairia. Só em 2015, quando percebeu que o escândalo ia rebentar nas páginas do “Público”, se apressou a pagar a sua dívida à Segurança Social.


Já agora, também me pareceu relevante partilhar um vídeo que descobri enquanto escrevia esta mensagem. Infelizmente não consigo inserir o vídeo aqui, pelo que terei de vos deixar o link...